sábado, 15 de maio de 2010

auto-sinceridade

é engraçado, as pessoas vivem exigindo honestidade e sinceridade alheia: dos políticos, dos policiais, das amizades, do namoro (como exigem sinceridade no namoro!)... mas eis a pergunta: as pessoas são sinceras com elas mesmas? não. na maioria das vezes não são. é mais fácil exigir dos outros, perceber os deslizes dos outros, apontar os defeitos dos outros. são incontáveis as desculpas quando se trata de nós. simplesmente não nos permitimos sentir inveja, raiva, insegurança, sentimentos que apenas fazem parte do desenvolvimento e crescimento do ser humano. no lugar disso, nos auto-martirizamos com a carga do "tenho que" ou do "não posso": "eu tenho que parecer ótimo, não posso pensar nisso, tenho que parar de sentir isso ou aquilo". mais precisamente: "tenho que ter absoluto controle sobre minhas ações, sentimentos e pensamentos. caso contrário, soa como fraqueza. e fraco, eu? não". quanta ilusão. sabe, `as vezes é preciso aceitar, apenas. mesmo a mudança interior só é plena quando existe uma pausa de aceitação, de auto-compreensão. seria: "é, to sentindo inveja, que droga. mas tudo bem, não se culpe tanto por isso, vai passar!" por que não somos bons pra gente assim? resposta: porque não nos deixamos nem identificar nossos próprios sentimentos, uma vez que, de antemão, não nos permitimos senti-los. ta aí, auto-compreensão. é isso que falta. como as pessoas se cobram! há momentos em que não enxergam suas qualidades, outros seus defeitos. e ainda outros em que enxergam defeitos onde não têm. é realmente complexo o ser humano. perdem tanto tempo tentando controlar tudo, tentando mostrar uma carcaça perfeita, de pessoa perfeita (no orkut, diga-se de passagem, todo mundo é lindo, feliz, realizado. as amizades são as mais fortes, os amores os mais sinceros), que acabam por perder a si mesmos, num cantinho empoeirado, de algum lugar escondido. a carcaça não é perfeita, ela tem marcas, ela pode rachar. não to falando que deveríamos nos entender por completo, a vida perderia sentido, mas um pouquinho de auto-sinceridade, por mais difícil que pareça ser, não faz mal a ninguém. pelo contrário, nos ajuda a entender melhor os outros também, ao invés de somente julga-los. acredito muito na idéia de que precisamos nos ajudar primeiro, antes de nos doar ao próximo. e não, isso não é egoísmo, é cuidado, é amor `a tudo que habita dentro de nós. quando não somos sinceros com nós mesmos, ser sincero com o próximo se torna tão difícil. seguindo essa linha de pensamento, quando não ajudamos a nós mesmos, a ajuda ao próximo não é plena. então vamos nos permitir sentir, o que for, o que vier. as pessoas são falhas, inseguras por natureza. acho que dá mais certo se a gente cuidar das nossas próprias falhas e inseguranças, começando por percebê-las, identificá-las. antes de exigir a honestidade e sinceridade do político, do policial, do amigo, do namorado, sejamos sinceros por dentro. talvez se o político, o policial, o amigo, o namorado o fossem, o mundo seria mais honesto.
o post de hoje é dedicado `a auto-sinceridade. e vamos nos cuidar com carinho!

4 comentários:

  1. mentir pra si mesmo é tão fácil. falta auto-sinceridade nas pessoas: procurar sempre ser fiel a si mesmo, se compreendendo e agindo conforme os próprios sentimentos e ideias.

    sim! sim!!!
    eu gostei muito!!

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  2. minha clarinha, salvei este texto pra mim. quero tê-lo e aprender a vivê-lo. vc é linda.
    Juju

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  3. Querida escritora, desculpa a invasão, mas adorei a sua sinceridade. Só deixando registrado que vc está sendo lida. rs Bjs ;)

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  4. Muito boa a sua reflexão. Acho que a gente vive num mundo muito hipócrita, talvez até por que o sistema exija isso de nós, que sejamos sempre fortes, sempre presentes e contentes, que tenhamos um carro zero, um wi e um labrador...Por isso as vezes acho que ignoramos ou controlamos nossos reais sentimentos e nossas vontades com o objetivo de não nos afastar dessa realidade figurada.

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