quinta-feira, 18 de novembro de 2010

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abraço. braço enroscado no laço. aço que quebra em pedaço. no amaço, mormaço: descarrego o cansaço. embaraço o que faço, amo (s)em compasso, me despedaço, caço o inchaço do passo. ultrapasso o abraço. renasço.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

passos em frente

há tanto tempo não saía de casa, que seus olhos agora lacrimejavam com o vento gelado que acariciava seu rosto pálido. deu dois passos. parou. pensou em voltar pro calabouço escuro em que transformara seu próprio quarto. lá encontrava a ilusão de um conforto. lá as paredes impecavelmente brancas e as janelas e porta trancadas a protegiam. não voltou, porém. deu mais alguns passos em frente, contra o vento que ainda lhe arrancava lágrimas. quando encontrou a areia, foi tomada por um prazer que há muito não sentia. não se lembrava da textura, da temperatura, do cheiro do mar que agora banhava seus pés friorentos. afundou naquela areia molhada, como uma criança querendo esconder o pé. a lágrima que caiu nesse momento desprendeu um sorriso de canto de boca, tímido como a espuma que nascia na beira daquela água. fruto de poucas ondas que chegavam, também tímidas. resolveu se destrancar por um instante da prisão instalada em seu interior e olhou a sua volta. era tanta vida! pessoas correndo, crianças brincando. sentiu-se bem. se permitiu fazer parte daquela vida toda. dessa vez deixou que o vento, a areia, o mar, a vida lhe desprendessem uma gargalhada alta, cujo som também não se recordava. respirou fundo, porque queria deixar todo aquele vento entrar. vento que carregava o som daquelas gargalhadas, daquele mar. queria se encher da vida que o vento parecia carregar. quando se deu conta, tinha se transformado no próprio vento.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

por si só

tenho sentido vontade de escrever sobre aquele vaso vazio de plantas, o botão largado no canto do quarto e o suor que escorre direto para o chão. não sobre a ausência da flor, da blusa e da pele. vejo sentido no que é por si só, sem nexo ou necessidade de explicação e complemento. não precisa ser grande, ou importante, ou apaixonante, ou qualquer outra coisa. só precisa ser escrito, se vem de dentro.

pingo de gota

tem um pingo de gota passeando pelos pelinhos do meu braço. arrepio. meu corpo pulsa, vive. vive e pulsa e o pingo de gota se multiplica. vem de dentro, brota de mim e me faz sentir. tem uma cachoeira em algum lugar daqui, cheia de pingos de gota, que deslizam e se espalham pelo meu corpo, até me fazerem transbordar. eu me afogo nos meus pinguinhos de gota. e aí eu respiro dentro deles.

nua

quando eu andava nua na rua crua de sombra da árvore, o vento me vestia ao mesmo tempo em que me despia daquela energia que não era minha. o pesado virava levinho. a minha roupa era o vento. meu alento por dentro da pele, dentro do peito, em cima do leito. meu músculo não reprimia meus sentimentos por dentro da carne. eu não tinha roupas, ou muros, ou cercas. eu não cabia em fôrmas. porque eu era do tamanho de tudo o que é livre, de tudo que é ar, de tudo que é vento.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

foto.

foto.
um beijo roubado, um movimento acanhado, um toque esperado.
foto.
um beijo bem dado, um movimento assanhado, um toque apertado.

num céu azulado, de sol apaixonado, em tempo desregrado:
foto. grafia pintada de cor. ação congelada de dor. foto de amor desvairado.
cabelo descabelado, abraço enlaçado, lábio molhado, danado, engraçado, adorado, ado, ado, ado...

foto.
um lençol encharcado, dois corpos pelados, um gemido gritado.
foto.
um lençol descartado, dois corpos melados.
mas o gemido agora é forçado.

num quarto fechado, de clima pesado, um dizer ignorado: foto.
num céu acinzentado, de sol terminado, em tempo levado. preto e branco:
foto. grafia pintada sem cor. ação congelada de dor. foto de amor inventado.
pedido negado, coração quebrado, tudo acabado, requentado, rasgado, desgraçado, ado, ado, ado...

foto.
o tudo acabado é recomeçado com um beijo roubado.
movimento acanhado.
toque esperado (...)

foto.
amor desvairado, amor inventado, amor desgraçado
acertado, errado e aí consertado.
amor machucado
curado
amor amado.

foto.
e chega de ado.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

acho que perdi meu olho

acho que perdi meu olho. tenho olhado com olhos que não são meus.
acho que perdi minha boca. perdi minha língua, minhas palavras, meus dentes. tenho sorrido com dentes que não são meus. mais amarelos que o normal, forçados.
já que perdi minhas palavras, acho que perdi meu cérebro. afinal, palavras, antes de saírem pela boca, são pensadas (pelo menos deveriam ser). e não, eu não penso mais com o meu cérebro. talvez com algum cérebro robô coletivo, que só armazena pensamentos iguais, impostos, não entendidos, só segue pensando sem saber pensar, sem saber porque, sem saber.
acho que me perdi.
procuro por mim, pelo meu olho, minha boca, língua, palavras, dentes, cérebro. procuro devagar na maioria do tempo, mas `as vezes desvairada, apressada, aflita (quando acho que perdi também o tempo). como se o tempo aparentemente perdido devido `a minha procura se multiplicasse. ele não se importa com todas essas perdas. tempo não tem olho. nem boca, nem palavras, nem cérebro. nem ponteiro o tempo tem. sabe, também não quero ter ponteiros! eles cismam em me apressar. acham que são o tal do tempo.
será que devo parar de procurar meu olho? e me contentar em olhar com olhos que não são meus? pra não perder, além de tudo, o tempo que vem? sempre achei que isso era se auto-cegar. não olhar. olhar é outra coisa.
eu costumava ter um olho meu, uma boca minha, um cérebro de idéias firmes. em qual lugar daquelas montanhas, talvez daquelas nuvens ou daqueles mares, meu olho deve estar?
procuro...
acho um vazio cheio de nada. e aí, nesse nada, acho um grão de não sei bem o quê. brotou o grão. brotaram, do nada, essas palavras que escrevo agora. tronchas, mais confusas que o normal, sem sentido.
perdidas. como meu olho e todo o resto.
no entanto, menos perdidas que aquelas palavras que comentei ali em cima. aquelas eram ditas pela minha boca perdida. desvirtuadas pelos meus dentes mais amarelos que o normal. aquelas eram pensadas pelo meu cérebro também perdido. é, essas são definitivamente menos perdidas que aquelas.
minha vontade é escrever palavras soltas, várias delas. e que elas se juntem sozinhas, se embaralhem, se confundam, até se formarem de novo, letra após letra. até se acharem. até eu me achar, nas palavras. nas minhas, minhas palavras.
o fim desse monte de letras confusas juntas não é lindo como um conto de fadas. eu não achei meu olho antes de terminar de escrever. mas acho que tive uma idéia enquanto escrevia: ele não está em nenhuma montanha, ou nuvem, ou mar. acho que ele está bem mais perto. não sei aonde ainda, mas acho que é dentro de mim. aqui, em algum lugar.
aqui. junto com minha boca, minha língua, minhas palavras, meus dentes, meu cérebro.
aqui. em algum lugar daqui.
junto comigo.

o tempo que me perdoe, mas eu procuro...

domingo, 16 de maio de 2010

a menina vive

feita de saudade, a menina canta
encanta por simplicidade
nem sempre é simples, porém. às vezes não sabe
muitas vezes não sabe, aliás

feita de dúvida, a menina chora
quer sumir, ir embora
mas fica. arde, grita, explode, morre
e, enfim, se descobre

não culpe a menina
já quisera ter certeza, a bailarina
mas quem disse que certeza é certo?
afinal, se não muda, é retrocesso
a menina muda. tanto, que se perde

feita de amor, a menina brilha
sonha, dança, fantasia
quer paz, busca carinho, passa alegria
mas arde, grita, explode, morre

feita de tudo, a menina vive.

sábado, 15 de maio de 2010

auto-sinceridade

é engraçado, as pessoas vivem exigindo honestidade e sinceridade alheia: dos políticos, dos policiais, das amizades, do namoro (como exigem sinceridade no namoro!)... mas eis a pergunta: as pessoas são sinceras com elas mesmas? não. na maioria das vezes não são. é mais fácil exigir dos outros, perceber os deslizes dos outros, apontar os defeitos dos outros. são incontáveis as desculpas quando se trata de nós. simplesmente não nos permitimos sentir inveja, raiva, insegurança, sentimentos que apenas fazem parte do desenvolvimento e crescimento do ser humano. no lugar disso, nos auto-martirizamos com a carga do "tenho que" ou do "não posso": "eu tenho que parecer ótimo, não posso pensar nisso, tenho que parar de sentir isso ou aquilo". mais precisamente: "tenho que ter absoluto controle sobre minhas ações, sentimentos e pensamentos. caso contrário, soa como fraqueza. e fraco, eu? não". quanta ilusão. sabe, `as vezes é preciso aceitar, apenas. mesmo a mudança interior só é plena quando existe uma pausa de aceitação, de auto-compreensão. seria: "é, to sentindo inveja, que droga. mas tudo bem, não se culpe tanto por isso, vai passar!" por que não somos bons pra gente assim? resposta: porque não nos deixamos nem identificar nossos próprios sentimentos, uma vez que, de antemão, não nos permitimos senti-los. ta aí, auto-compreensão. é isso que falta. como as pessoas se cobram! há momentos em que não enxergam suas qualidades, outros seus defeitos. e ainda outros em que enxergam defeitos onde não têm. é realmente complexo o ser humano. perdem tanto tempo tentando controlar tudo, tentando mostrar uma carcaça perfeita, de pessoa perfeita (no orkut, diga-se de passagem, todo mundo é lindo, feliz, realizado. as amizades são as mais fortes, os amores os mais sinceros), que acabam por perder a si mesmos, num cantinho empoeirado, de algum lugar escondido. a carcaça não é perfeita, ela tem marcas, ela pode rachar. não to falando que deveríamos nos entender por completo, a vida perderia sentido, mas um pouquinho de auto-sinceridade, por mais difícil que pareça ser, não faz mal a ninguém. pelo contrário, nos ajuda a entender melhor os outros também, ao invés de somente julga-los. acredito muito na idéia de que precisamos nos ajudar primeiro, antes de nos doar ao próximo. e não, isso não é egoísmo, é cuidado, é amor `a tudo que habita dentro de nós. quando não somos sinceros com nós mesmos, ser sincero com o próximo se torna tão difícil. seguindo essa linha de pensamento, quando não ajudamos a nós mesmos, a ajuda ao próximo não é plena. então vamos nos permitir sentir, o que for, o que vier. as pessoas são falhas, inseguras por natureza. acho que dá mais certo se a gente cuidar das nossas próprias falhas e inseguranças, começando por percebê-las, identificá-las. antes de exigir a honestidade e sinceridade do político, do policial, do amigo, do namorado, sejamos sinceros por dentro. talvez se o político, o policial, o amigo, o namorado o fossem, o mundo seria mais honesto.
o post de hoje é dedicado `a auto-sinceridade. e vamos nos cuidar com carinho!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

hoje.

já tem um tempo que penso em fazer um blog, mas antes acabava deixando pra lá. o que eu escreveria? e se ninguém gostar? e se eu não conseguir transformar em palavras o que eu penso, sinto e acabar por me sentir frustrada por não representá-las direito? sabe, hoje cheguei `a conclusão de que isso bem que pode acontecer. e aqui estou eu, criando o blog. um tanto quanto estranho, né? vou me explicar: e SE acontecer? o que tem de tão grave aí? eu gosto tanto de escrever, sempre gostei e, se me faz tão bem, eu não deveria deixar de fazer porque podem não gostar. Esse é um risco que todos nós corremos e, se formos ceder `a ele, acabamos por não fazer nada. aí sim seríamos pessoas frustradas. em relação ao que escrever, eu, sinceramente, não sei ainda. hoje, agora é isso que estou escrevendo. digamos que seja um primeiro passo, ainda tímido, incerto, em fase de desenvolvimento. amanhã não sei que luz diferente vou encontrar por aí. sobre transformar em palavras o que penso e sinto, confesso que isso é um desafio pra mim. tanta coisa passa pela minha cabeça, algumas até fáceis de entender, outras sem sentido algum. sou feita de contradições inexplicáveis, idéias loucas, dúvidas, muitas dúvidas. realmente não sei se vai ser fácil organizar um pouquinho de tudo isso, um pouquinho de mim (um pouquinho, porque tudo, seria até perda de tempo) em palavras. mas resolvi parar de ter medo de desafios, afinal, é muito "fácil" desistir das coisas, tendo como desculpa todas as dificuldades que, muitas vezes, são criadas por nós mesmos. seria fácil falar: "ah, é tanta coisa, não vou conseguir mesmo, deixa pra lá!" (confesso que é tão fácil que me pego fazendo exatamente isso muitas vezes. não gosto quando eu faço isso).
só pra vocês entenderem: muito do que eu to falando é um diálogo comigo mesma. acho que precisava dizer certas coisas pra mim e parece que tá dando certo. parece que, de repente, as palavras começaram a surgir dos meus dedos, sem dificuldade, simplesmente. de vez em quando me sinto paralisada, achando que não vou conseguir fazer nada direito, um blog por exemplo. acredita? quando vou ver, estou me comparando com o famoso cocô do cavalo do bandido. conhece? vê se pode?! acho que não sou a única. se isso também acontece com vc `as vezes, falo pra nós duas (dois): ah, chega disso! eu hein! sou muito capaz, vc também deve ser! esse post, então, é dedicado `a produtividade minha, sua, de todos. sejamos úteis! (será que escrever um blog é útil? pode ser que não, né? bom, certamente é mais útil que não fazer nada). façamos alguma coisa, então! hoje!

um pensamento: imagina se eu não estivesse escrito isso hoje. seria mais um dia querendo um fazer um blog, sem blog feito. não que esperar mais um dia pra escrever esse texto confuso fosse mudar extremamente minha vida. nesse caso acho que não mudaria muita coisa mesmo (ou mudaria? se todos os dias eu deixasse pro dia seguinte, nunca faria um blog!), mas, enfim, o pensamento é: viva o hoje! sei que maior clichê que esse não existe, mas quem disse que clichê, só porque é clichê, não faz sentido? termino o meu segundo post `a lá alcoólicos anônimos: um dia de cada vez, uma coisinha realizada de cada vez, é o que nos faz sentir úteis (mesmo que seja só ilusão). criar um blog parece ser a coisa mais ridícula de fácil do mundo, mas eu lá tive as minhas dificuldades de criá-lo. mas eu criei! hoje! e to muito feliz com ele! cada um tem suas dificuldades, aparentemente fáceis ou difíceis. mas quem tá ligando pra aparência, afinal? o que importa é caminhar. sempre.

ps: tenho mesmo a incapacidade de controle quando estou escrevendo. simplesmente não dá pra parar! por isso, normalmente quando escrevo pra alguém tenho mania de pedir desculpa por ter escrito tanto. pela força do hábito, era isso que eu ia fazer agora. mas peraí! o blog é meu e ele foi criado com intuito de ser muito escrito mesmo! então, não peço desculpas!

descrição do blog

escrevi isso na definição do meu blog, mas tinha caracteres demais. pra não apagar, resolvi postar aqui.

clara é meu nome. mas não sou definida apenas pelo nome que meus pais me deram. ah, não mesmo, sou muito mais do que uma palavrinha composta por 5 letras. nenhum de nós é só isso, um nome. tenho (temos) muito a contribuir, a realizar. e porque não ajudar, também, em forma de escrita? mesmo que a ajuda seja "só" para nós mesmos, ou "só" para uma pessoa que, por acaso, num dia sem nada pra fazer, leia alguma idéia minha (nossa). nao quero ser prepotente a ponto de afirmar que vou ajudar com isso aqui. mas mesmo que a ajuda seja quase que insignificante, pode ser ajuda. e mesmo que não seja ajuda, pode fazer rir, ou refletir, ou nada (uma pena se não fizer sentir nada). mas mesmo que não seja nada, é, tá ali uma idéia, absurda ou não, louca ou não, utópica (odeio essa palavra), possível (tudo é), estranha ou qualquer coisa que seja: é. a descrição do meu blog, se é que seja possível defini-lo assim, precisamente, é possibilidade. talvez essa seja a palavra que eu mais goste. o mundo é feito de possibilidades. das mais surreais, inacreditáveis, bonitas possibilidades. são tantas.. é provável que muito do que eu escreva vai ser confuso, alguns textos não tão interessantes assim, pra serem postados, mas resolvi que aqui vai ser um canto de palavras, quaisquer que sejam, agradáveis ou não. vou me sentir em casa aqui. espero que você também. porque tudo o que está aqui, tudo o que existe, imaterial ou materialmente, é. porque se fez possível ser.